style="width: 100%;" data-filename="retriever">
style="width: 100%;" data-filename="retriever">
Há um tempo para tudo. Tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e de arrancar o que se plantou, como lê no Eclesiastes.
Sento-me agora, fevereiro de 2020, para rememorar um tropeço literário praticado aqui em novembro de 2017. Deixei o tempo passar desde então e agora, retomando o passado, tentarei recolocar cada coisa em seu lugar.
Prado Veppo era oito anos mais velho do que eu, mas assim que chegou a São Paulo, em 1960, nos encontramos e tudo passou a acontecer como se tivéssemos a mesma idade. Meu tio Dalton Couto sugeriu-lhe que desfrutássemos juntos da boemia paulistana. Um sujeito formidável que, em um belo poema, Ernâni Vanacor descreve como "um jorro de petróleo".
Encontramo-nos seguidamente no Clube dos Artistas e dos Amigos da Arte - o "Clubinho". Mais ainda, reiteradamente no Dom Casmurro onde, uma noite, ele declamou um poema lindo, muito lindo, de verdade: Aonde irás quando morreres? / Voltarás à terra? / E se voltares, serás flor ou pássaro? / Ou terás a pretensão de voltar beijo?
Em um pedaço de papel transcrevi-o e o guardei para mim. Essa transcrição é minha, o poema é do amigo que, lá no Céu, há de estar sorrindo para mim. Depois disso, em um livro que publiquei em 2011 - Paris, quartier Saint-Germain-des-Prés - que os franceses editaram na França em 2015 (Le flâneur de Saint-Germain-des-Prés), novamente o transcrevi, evidentemente atribuindo-o a ele.
O que escrevi no nosso Diário de Santa Maria em novembro de 2017, em um dos meus artiguinhos quinzenais, é realmente nebuloso, de modo que cá estou para dar a mão à palmatória. O que então pretendi afirmar é que a transcrição do poema é minha, mas quem o compôs foi ele. Fui, no entanto - ainda que involuntariamente - nebuloso. Por conta disso a filha, o filho e a viúva do meu bom amigo enviaram uma carta ao nosso jornal esclarecendo que o poema é dele. Cheios de razão, de verdade, ao escrevê-la. De sorte que cá estou para pedir-lhes que me absolvam.
Ele, repito, há de estar lá de cima sorrindo para mim. A dizer-me que sabia, tinha certeza de que eu a daria, a mão, à palmatória. Sinto neste momento uma vontade danada de repetir que seus poemas me encantam, que ele é, realmente, o poeta de Santa Maria!
Tenho em minhas mãos - entre elas e o computador no qual rascunho este texto -um exemplar de suas obras completas, publicado pela Editora UFSM. Encantado, de verdade, com A encarnação!. Um poema que me leva de volta ao tempo em que lá estávamos, inicialmente no largo do Arouche - praça do amor! -, em seguida a caminharmos pela calçada do Dom Casmurro, em direção à alvorada! Lá onde a rosa encarnada se abria, lá em cima onde um dia há de reabrir-se em nossas mãos!